quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A MORTE NO MUSEU NÃO MORRE!!!




Por Cláudio Chacal

Para alguns, o senso comum, que é a grande maioria, lugar de coisa velha é no museu. É para lá que deve ir tudo o que é “supostamente” morto e sem vida para a sociedade. Mas, contrariando sempre essa idéia, por muitos séculos o museu vem sempre surpreendendo. Um bom exemplo é o Museu da Morte, surgido no século XIV na Itália, lá podemos ter a “prova viva” que até a morte no museu não morre rsrsr. Confiram a matéria na íntegra!!!

O assustador Museu da Morte


Em Palermo, na Itália, existe um dos museus mais macabros do mundo, afinal ele tem como temática a morte. Lá existem mais de oito mil corpos expostos ao público.
Criado em 1599, as catacumbas foram construídas com a intenção de ser um local que permitisse a visitação do corpo do famoso monge: Silvestro de Gubbio. Mas com o passar do tempo o número de monges cresceu e como o cemitério não conseguia mais absorver o número de mortos, a cripta subterrânea acabou sendo aumentada e eles começaram a serem “enterrados” nesse lugar.
Conforme o tempo passava, essa forma de sepultamento se tornava uma tradição local e a burguesia aderia a essa moda. Durante a vida os mais ricos doavam dinheiro ao mosteiro para que na sua morte eles fossem sepultados no local.
Em 1882, o local foi oficialmente fechado para sepultamento, mas recebeu mais alguns corpos a pedidos especiais. Sendo um deles o de Rosalia Lombardo, que se tornou o mais famoso do local, devido a sua perfeita conservação. A menina, que tinha dois anos quando faleceu, é o corpo mais conservado do local, tão perfeito que mal pode-se notar que ela está morta:



Durante muito tempo a conservação do corpo dela foi um mistério, mas há pouco tempo uma pesquisa feita pela National Geographic Magazine revelou que o médico que embalsamou a menina, utilizou uma técnica nova, que tinha como "ingrediente secreto" a aspirina, dessa forma ele conseguiu que o corpo se mantivesse mais conservado que todos os demais.

Um fato muito interessante sobre o local é que sua atmosfera e seu solo fazem com que os corpos fiquem muito mais conversados do que o normal, o que torna a experiência de visitar esse museu em algo único no mundo.
Fique com algumas imagens desse local incrível e assustador:

























Referência da matéria e imagens:http://minilua.com/curiosidades/

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ALGUMAS NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO NO BRASIL*

Cláudio Chacal


Mesmo partindo do princípio de que a Museologia, na atualidade, enquanto campo de conhecimento, não está voltada para o estudo dos museus, a rememoração da sua trajetória torna-se impossível, quando abordamos a construção do seu pensamento, de sua filosofia, em fim da sua construção teórica. Tendo em mente a importância dessa relação “museu e museologia” (STRÀNSKÝ, 2008) é que pontuamos neste trabalho alguns dos principais momentos vivenciados pelos museus brasileiros e como estes contribuíram para a construção do nosso cenário museal.

Seguindo a linha explicitada, anteriormente, a primeira ação de cunho museológico no Brasil, segundo Mário Chagas (2008), pode ser considerada a partir de uma experiência singular e isolada em Pernambuco, durante a invasão holandesa, com a instalação de um museu no grande parque do Palácio de Vrijburg no século XVIII. Podendo esta ação, dentro da tradição museal brasileira, ser entendida como “parte de um projeto civilizador de modernidade” (CHAGAS, 2008, p. 64) enfatizado, posteriormente, no século XIX com a vinda da Família Real. Mas, ainda no século XVIII, com a valorização das Ciências Naturais, tivemos o surgimento de uma outra instituição, a Casa de História Natural.

Foi dentro dessa conjuntura, que surgiu a “Casa de História Natural”, criada em 1784, estando a frente de suas ações Francisco Xavier Cardoso. De acordo com Maria Margaret Lopes, a “Casa dos Pássaros”, assim como ficou popularmente conhecida “por mais de vinte anos, colecionou, armazenou e preparou produtos naturais e adornos indígenas para enviar a Lisboa” (LOPES, 1997, p. 26). É nesse momento, que o Brasil tem um significativo avanço no cenário museal, passando a dispor de um espaço responsável por executar as atividades de coleta, pesquisa e preservação da fauna e flora brasileira, dando, assim, início aos primeiros fazeres museológicos.

É dessa forma, com a “Casa dos Pássaros”, que damos os primeiros passos para a afirmação da importância dos museus brasileiros. As instituições museológicas, então, entram no século XIX firmando uma base sólida, tendo em seu histórico a primeira instituição preocupada com a “ciência classificatória e com a formação de um acervo que bem representasse a nação que se formava” (SANTOS, 2002), um resultado obtido através das relações museológicas luso-brasileiras. Foi, somente nesse período, com a vinda da família real para o Brasil, que o cenário museológico passou a se desenvolver efetivamente, saindo assim do “deserto museal” apontado por Mário Chagas, o qual faz a seguinte afirmação: Quando a corte portuguesa aportou no início do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, o Brasil era quase um deserto do ponto de vista museal, o que, aliás, não era uma exclusividade sua. Só não se pode falar claramente em deserto quando se levam em conta as experiências de instalação de hortos e jardins botânicos levadas a efeito nos “últimos anos do século XVIII e na primeira década do seguinte” (JOBIM, 1986: 53-106) – desde que se considere que essas instituições possam ser incluídas na categoria museu, o que, no mínimo, para a época, soaria estranho (CHAGAS, p, 64-65).

Mesmo soando estranho para a época, como nos alerta o autor, os hortos juntamente com os jardins botânicos criados nesse período, constituem-se como elementos de fundamental importância para a preservação e divulgação das belezas naturais do Brasil colônia, sendo também a mola propulsora responsável pelo desenvolvimento do pensamento museológico brasileiro movido concomitantemente pelo espírito das Ciências Naturais.

Com a vinda da Família Real e as intenções de fortalecimento do reino português em terras brasileiras vamos ter a criação de um museu que terá como objetivo “civilizar o Brasil” (SANTOS, 2002), através do seu desenvolvimento científico. É assim, nesse contexto de mudança da corte, que é pensado o Museu Real do Rio de Janeiro, atual Museu Nacional. Criado pelo decreto de 6 de junho de 1818, a instituição tem seu primeiro acervo formado pelas coleções da antiga “Casa dos Pássaros”, passando a ser durante a primeira metade do século XIX o “único expressivo centro de experiência museal no Brasil” (CHAGAS, 2009, p.68). A partir de então o Museu Real passa a contribuir na composição do cenário museológico internacional, ao lado de outros grandes museus de tradição européia.

Posteriormente passam a surgir outros museus, fomentando o desenvolvimento da museologia brasileira, entre eles, tivemos o Museu do Exército, em 1846, o da Marinha em 1868, o Museu Paraense em 1876, e o Museu do Instituto Histórico Brasileiro, em 1894. Acompanhado o movimento dos museus no contexto internacional passamos a ter, no Brasil, o surgimento de instituições com outras tipologias, a saber o “modelo de museu etnográfico, que se difundiu em todo o mundo, entre os anos 1870 e 1930” estando nessa categoria o Museu Paraense Emílio Goeldi, em 1866, e o Museu Paulista em 1894 (JULIÃO, 2006, p, 21-22). Os dados apresentados acerca do surgimento dos museus servem para referenciar a “museodiversidade” e o amadurecimento do cenário museológico brasileiro, em processo de mutação.

Passando por profundas mudanças, os museus, pensados, anteriormente, enquanto instituições que poderiam abarcar o conhecimento universal, voltados para um saber enciclopédico, passam a entrar em declínio, sobressaindo-se então os museus de caráter nacionalista, que tinham em vista celebrar e fundamentar uma identidade nacional. Assim, sob esta plataforma nasce o Museu Histórico Nacional (MHN).
Criado em 1922 no Governo de Epitácio Pessoa, na cidade do Rio de Janeiro, o MHN surge no contexto auspicioso da comemoração dos 100 anos de nação soberana (ABREU, 1990). Regido sob a batuta do mestre Gustavo Barroso, o museu passa a ser um dos principais responsáveis por uma alteração significativa na composição do pensamento museológico brasileiro, inaugurando o rompimento dos museus brasileiros com a visão enciclopédica.

Mesmo inaugurando uma nova fase da Museologia brasileira, o MHN, também pode ser analisado, na visão de Mário Chagas, como uma ponte, “entre o século XIX e o século XX, entre a República e o Império, entre os gestos heróicos do presente e do passado. O que estava em causa não era ruptura, era continuidade e tradição” (2009, p. 89). Tal análise fundamenta-se nas intenções da instituição buscar no passado os elementos responsáveis para se construir a imagem da nação.

Trazendo ainda um complemento maior para a idéia de “ruptura e continuação” que envolve o nascimento do MHN, salientamos que “o surgimento de novos paradigmas não inviabiliza o paradigma anterior, abre apenas novos campos de possibilidade e disponibiliza novas (ou velhas) ferramentas para o enfrentamento de novos (ou velhos) problemas” (CHAGAS, 2008, p. 42).
Nesse sentido o Museu Histórico nacional, pensado como um meio de ruptura com a tradição enciclopedista, pode ser colocado também, como o principal responsável por instituir a passagem de “conservador de museus” para “técnico de museus”, uma ação decisiva que contribuiu categoricamente para o amadurecimento da Museologia brasileira.

Sendo criado em março de 1932 nas instalações do MHN, durante a curta gestão de Rodolfo Garcia, entre os anos de 1930-1932, e modificado posteriormente por Gustavo Barroso, o Curso Técnico de Museus “do ponto de vista museológico” (CHAGAS, 2009, p.98-99), pode ser considerado como um acontecimento mais importante do que a criação do próprio museu, uma vez que a formação de profissionais na área museológica, torna se um dos elementos responsáveis por se pensar a Museologia enquanto área de conhecimento, e, posteriormente disciplina científica em estado embrionário.

Ainda sob o comando de Barroso, o Museu Histórico passou a disseminar as suas idéias preservacionistas, comprometidas com a valorização da memória nacional, foi nesse período que o Museu passou a chefiar a Inspetoria de Monumentos, em 1933, e a organização do Serviço de Proteção aos Monumentos Históricos e Obras de Arte, tornando-se um dos os principais responsáveis por forjar uma identidade nacional e a delinear políticas preservacionistas, das quais por muito tempo, os próprios museus, ficaram alheios. Sendo justificado por Waldisa Russio, pelo seguinte motivo: Assim numa primeira abordagem, os museus no período de sua institucionalização inicial (Museu Real, depois Imperial e, finalmente, Nacional) até 1930, são organismos transplantados para o nosso meio cultural, como instrumento de modernização, ou seja, adoção de padrões considerados mais avançados em nações também mais adiantadas. Portanto, não é de se estranhar o seu alheiamento e o alheiamento a que ficaram quase que por destinação de origem (RÚSSIO, 1989, p. 73).

Saindo do alheiamento para o centro das atenções, os museus brasileiros, em especial o Museu Histórico, passam a ser uma das instituições oficiais preocupadas com a preservação do patrimônio nacional, contribuindo “de dentro para fora e de fora para dentro para a dilatação do domínio patrimonial” (CHAGAS, 2009, p.47) sendo acompanhada, posteriormente, pela criação do Serviço de Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (SPHAN) (2), em 1937 que institui-se como o principal órgão de defesa.

Estabelecendo um diálogo entre os acontecimentos ocorridos no cenário museológico brasileiro e internacional, vamos ter alguns anos depois da criação do SPHAN no Brasil, a criação do Conselho Internacional de Museus (ICOM) em 1946, e a sua vinculação a UNESCO, em 1947, nesse meio tempo os museus passam a adquirir uma maior visibilidade, ganhando um espaço de estudo, produção, acumulação e difusão de conhecimento sobre seu universo. Sendo definido, no ano de 1948, como: [...] todas as coleções abertas ao público de objetos artísticos, técnicos, científicos, históricos ou arqueológicos e [...] os zoológicos, jardins botânicos, mas se exclui as bibliotecas, a não ser que estas possuam salas de exposição permanentes (MAIRESSE, 2005, p.42).

Apesar de sua definição ter uma ênfase em suas coleções, é nessa ocasião que a Museologia passa a ser delineada (CERÁVOLO, 2004) tendo uma maior projeção enquanto campo científico, através do Conselho, ganhando um corpo teórico, que será fortalecido anos depois com a criação do Comitê Internacional da Museologia (Icofom).

NOTAS

*Texto extraído de ANTECEDENTES MUSEAIS (1848-1948):A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO EM SERGIPE. In: Era uma casa, era um museu: A Formação do Pensamento Museológico Social Sergipano em José Augusto Garcez. Monografia apresentada a UFS. Julho de 2011, p.29-33.

1.Para alguns teóricos da Museologia, a exemplo de CHAGAS 1990; RÚSSIO, 1990; BRUNO, 1997 partimos do entendimento da relação do HOMEM/PTRIMÔNIO/CENÁRIO, uma das definições mais correntes no cenário museal brasileiro.Mas faz-se necessário ressaltar que existem outras tendências do pensamento museológico contemporâneo. Quanto a esse aspecto consultar MENSCH, 1994.

2.Elaborado por Mário de Andrade a pedido de Gustavo Capanema, Ministro da Educação de 1934 a 1945, o SPHAN foi aprovado sob o Decreto-lei nº 25 de 30 de novembro de 1937, sendo hoje o órgão federal mais antigo da América Latina, responsável pela proteção do patrimônio histórico e artístico brasileiro (Ver Publicações da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº. 31, 1989).



BIBLIOGRAFIA

ABREU, Regina e CHAGAS, Mário (orgs). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de janeiro: DP & A, 2003.

CERÁVOLO, Suely Moraes. Delineamentos para uma teoria da museologia. Anais do Museu Paulista, junio-deciembre, año/vol.12, número 012. Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil, pp. 327-268.

CHAGAS, Mário. A Imaginação Museal: Museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro: MinC/IBRAM, 2009. 258p.

JULIÃO, Letícia. Apontamentos sobre a História do Museu. In:_____Cadernos de Diretrizes museológicas. Brasilia: Ministério da Cultura/IPHAN/DEMU, Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura/Superintendência de Museus, 2006. 2ª Edição.

LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo. Editora Hucitec, 1997.

RÚSSIO, W. G. Museu, museologia, museólogos e formação. Revista de museologia, São Paulo: Instituto de Museologia de São Paulo Fesp/SP; 1(1), p. 7-11, 1989.

SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. Museus Brasileiros e Política Cultural. Revista Brasileira de Ciências Sociais – Vol. 19 Nº 55. Junho de 2004, p. 53-73.

STRÁNSKÝ. Zbynek Z. Sobre o tema “Museologia – ciências ou apenas trabalho prático?” (1980). In: Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS UNIRIO/MAST. Tradução Tereza Scheiner (2008) p.101-105.