terça-feira, 17 de julho de 2012

O MOVIMENTO CULTURAL DE SERGIPE: SOB A ÓTICA DE LUIZ ANTÔNIO BARRETO

APRESENTAÇÃO



Este pequeno texto, publicado aqui em Ensaios Museológicos, trata-se de fragmento do projeto cultural desenvolvido pelo Instituto Pesquise, do escritor Luiz Antônio Barreto, falecido no dia 17 de abril de 2012.

No ano de 2010, época em que ele me presenteou com este artigo estava desenvolvendo o meu trabalho de conclusão do curso de Museologia, “Era uma casa, era um museu: a formação do pensamento museológico social sergipano em José Augusto Garcez”, orientado pela professora Rita Maia. Na ocasião, quando apresentei meu objeto de pesquisa, o professor ficou muito entusiasmado, pois além de ter convivido com Garcez, Luiz Antônio Barreto estava desenvolvendo um projeto de resgate do acervo oral do programa de rádio “Panorama Cultural” – PRJ-6, o qual divulgava as atividades do Museu Sergipano de Arte e Tradição.

Apresento, então, parte da introdução desse projeto, no qual o professor faz um apanhado sobre a importância do Movimento Cultural de Sergipe (MCS), criado em 1953, por Garcez.

O Movimento Cultural teve uma grande repercussão, ultrapassando as fronteiras de Sergipe, e sendo referenciado por intelectuais de renome, a exemplo do poeta Menotti Del Pichia, Câmara Cascudo e outros. Mesmo sem muita ajuda dos poderes institucionais do Governo o MCS conseguiu alcançar números surpreendentes, no que tange a editoração e publicação de livros.

A partir desta análise, de Luiz Antônio Barreto, percebemos a importância não só do Movimento criado por Garcez, como também a importância do seu criador para a articulação das políticas culturais alternativas naquele período.


O Movimento Cultural de Sergipe por Luiz Antônio Barreto

Sergipe conquistou um lugar destacado na inteligência brasileira, graças as contribuições de filhos ilustres da terra, como Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Laudelino Freire, Felisbelo Freire, João Ribeiro, Jackson de Figueiredo, Manoel Bomfim, Hermes Fontes, José Calazans, Mário Cabral, dentre outros escritores, que ajudaram na formação e compreensão da cultura brasileira.

Tais vultos, na sua maioria, viveram fora de Sergipe. A geração que permaneceu na terra, liderada pelo Gumercindo Bessa, e contando com Clodomir Silva, Prado Sampaio, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Florentino Menezes, Elias Montalvão, e outros, não contou com as mesmas oportunidades de divulgação dos seus trabalhos.

Nos anos de 1940, um grupo composto por Orlando Dantas, Garcia Moreno, José Calasans, Jorge Neto, Marcos Ferreira, Fernando Porto, Urbano Neto, criou e instalou o Centro de Estudos Econômicos e Sociais de Sergipe, com o objetivo de estudar e debater os problemas do Estado, editando livros que servissem ao esclarecimento das variadas questões do tempo. Alguns livros foram, então, editados, destacando-se: O problema açucareiro, de Orlando Dantas, e Aracaju, de Fernando Porto.

Somente nos anos de 1950, contudo, é que surgiu o Movimento Cultural de Sergipe, para servir de editora e autores locais. Fundado e dirigido por José Augusto Garcez (1918-1992), o MCS patrocinou o aparecimento de autores que marcaram a vida literária sergipana, como o poeta Santo Souza, a poetisa e romancista Giselda Morais, lançou as obras de José Sampaio – Nós acendemos as nossas estrelas e Obras completas -, além dos livros do professor Florentino Menezes, do magistrado José Bezerra e do próprio José Augusto Garcez.
Mais do que editar livros e autores locais, José Augusto Garcez fez um amplo e eficiente trabalho de divulgação, fora do Estado, concorrendo para que seus editados fossem conhecidos no resto do país. O Movimento Cultural de Sergipe não ficava somente nas edições de livros, quase duas dezenas somente em 1954, pois mantinha programas radiofônicos, literários, difundindo poesia e prosa locais.

A fase áurea do Movimento Cultural de Sergipe correspondeu ao Governo de Arnaldo Rollemberg Garcez, casado com D. Maria Augusta Garcez, irmã de José Augusto Garcez. O apoio governamental garantiu o volume de edições e bem assim as demais ações culturais empreendidas por José Augusto Garcez, como a Biblioteca Tobias Barreto e um Museu de História, ambos instalados em sua residência, a rua de Estância, em Aracaju e em casa para tal fim adaptada, em Itaporanga.

A importância do Movimento Cultural de Sergipe e o papel exercido pelo seu criador, bem como levantar obras e autores ligados ao MCS, conduz a um projeto plenamente justificado, pelos efeitos positivos em favor do conhecimento de um esforço local e de uma produção intelectual, em amplos campos de investigação. Mais de meio século depois, as obras editadas pelo Movimento Cultural de Sergipe ainda repercutem e seus principais autores são, ainda hoje, nomes acreditados da história cultural de Sergipe.