quinta-feira, 16 de julho de 2009

Entre as Cartas e Bilhetas de José Augusto Garcez, o Retrato de um Precursor da Museologia Sergipana*.


Carta de acervo particular de Silvia Garcez


A história de José Augusto Garcez se entrelaça com a história cultural do estado de Sergipe nas décadas de 40 e 50 do século XX. Nascido em 1918 na Usina Escurial em São Cristóvão (SE), começou sua vida de articulista aos 18 anos, escrevendo para vários jornais e envolvendo-se posteriormente com a museologia. Imbuído do desejo de musealizar as raízes culturais de seu Estado, José Augusto Garcez fundou, em 1948, e manteve com recursos próprios o “Museu Sergipano de Arte e Tradição”, hoje extinto. Foi neste Museu, funcionando a princípio em sua casa, que o intelectual preservou, pesquisou e comunicou parte do patrimônio salvaguardado. Mas sua atuação foi muito além.


Sabedor do poder do Rádio enquanto instrumento de educação e expansão da cultura, criou o programa “Panorama Cultural”, em 1949, na antiga Rádio PRJ 6, programa que se caracterizou pela divulgação das atividades desenvolvidas no âmbito de pesquisa do seu Museu, entre elas poesia, literatura brasileira e sergipana. Foi ainda o idealizador do Serviço de Pesquisa e Documentação Cultural-Científica, cuja função era resgatar documentos que versavam sobre a história sergipana e criou também a Biblioteca Popular Tobias Barreto.


Através da análise de cartas e bilhetes de José Augusto Garcez, enviados à intelectuais brasileiros, a exemplo de Sebrão Subrinho, Câmara Cascudo, Gustavo Barroso, entre outros podemos testificar as idéias do colecionador em ressaltar os valores culturais de Sergipe. Algo que podemos notar na carta do Ex-presidente da República Juscelino Kubitschek: “É admirável o Trabalho do Movimento Cultural de Sergipe, que reputo ser da maior significação para a cultura nacional. Só um espírito idealista voltado ao culto dos valores intelectuais, poderia promover essa iniciativa e leva-la galhardamente a cabo, apesar das dificuldades. Com os meus agradecimentos, envio-lhe sinceras congratulações e desejo-lhe êxito” (foto da carta acima).


Por meio dessas correspondências trocadas entre estes intelectuais, é possível também perceber a preocupação do colecionador em musealizar as raízes culturais de Sergipe. Preocupação que se entendeu ao campo da prática quando criou o Museu Sergipano de Arte e Tradição, fazendo desta instituição a primeira em Sergipe, a desenvolver as funções básicas de uma instituição museal: a preservação, pesquisa e comunicação.

Com o este trabalho pode-se concluir que a preocupação de Garcez com a musealização da memória cultural de Sergipe, apresentada em suas cartas e na sua atuação prática, o fazem precursor do pensamento museológico sergipano, devendo ser resgatado e estudado com profundidade. José Augusto Garcez, faleceu em Aracaju, no dia 12 de janeiro de 1992.




*Resumo da comunicação apresentada no V Workshop Arqueológico de Xingó/UFS em 2008


Referência Bibliográfica

GARCEZ, José Augusto. FOLCLORE: Realidade e Destino dos Museus. Aracaju. Livraria Regina, 1958.

Nenhum comentário:

Postar um comentário