segunda-feira, 20 de maio de 2013

JOSÉ AUGUSTO GARCEZ E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA ACRIAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO DE SERGIPE

Cláudio de Jesus Santos

Texto apresentado na 11ª Semana Nacional de Museus no Museu Histórico de Sergipe na Mesa Redonda: Museus (memória + criatividade) = Mudança Social no dia 17 de maio de 2011.





Refletindo acerca do tema da 11ª Semana Nacional de Museus, “Museus (memória + criatividade) = mudança social”, não poderia deixar de ressaltar que essa temática, em forma de equação poética, sempre foi constante nos fazeres museológicos de Sergipe desde a sua origem, por mais que em alguns momentos o resultado não tenha sido tão satisfatório quanto se esperava. Que o diga José Augusto Garcez, com a sua luta constante pela institucionalização de um museu mantido pelo governo do estado, nas décadas de 1940 e 1950 do século XX.

Até então nesse período, mesmo possuindo dois museus, o Museu do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (1912) e o Museu Histórico Horácio Hora em Laranjeiras (1942), Sergipe permaneceu por quase quatro décadas numa espécie de “inércia museológica”, uma situação que veio ser sanada com a atitude de Garcez após fundar o Museu Sergipano de Arte e Tradição em sua casa. De acordo com Maria Lourenço é justamente nesse período, no qual surge a instituição, que “Museu pouco mais é que improviso, ação entre amigos e vôo cego quanto a sua permanência e continuidade” (1999, p.21). A autora fala justamente da falta de apoio do poder público para a criação de museus, ficando sua criação nas mãos de sujeitos preocupados com a preservação do patrimônio e da memória.

A partir das suas ações museológicas, de coleta, preservação, pesquisa e comunicação Sergipe passa a ter mais destaque no quadro da museologia nacional, acompanhando o período de efervescência do surgimento dos Museus de Arte Moderna. Como compreende Lourenço, “nem todos são chamados de Museu de Arte (...). Outros contêm em sua denominação Museu de Arte e Tradição, como os do Estado do Sergipe, sediados em Aracaju (1948) e na cidade de Itaporanga D’Ajuda” (1999, p.89). Através da citação da autora podemos perceber a importância do museu criado por Garcez para a composição do cenário museológico sergipano, na década de 40, podendo ser percebido também como um elemento de ruptura para a renovação da Museologia no Estado, que passa a ganhar um novo modelo de museu.

Apesar das dificuldades no campo museológico, importa esclarecer que o museu idealizado e gestado por Garcez conseguiu inaugurar uma fase importante da Museologia sergipana, sendo um divisor de águas, não só nos fazeres museológicos como também na formulação do seu pensamento. Isso pode ser notado através das relações que o museu, estabelecia com a “comunidade científica” enquanto um produtor ativo do conhecimento, como também com a população passando a disseminar uma equação básica “museu + criatividade = mudança social”, definida quase vinte anos depois em Santiago do Chile como Museu Integral.

Assim, mesmo, segundo Garcez, “não correspondendo a técnica exigida na perfeita função do verdadeiro Museu” a instituição recebeu vários comentários em âmbito nacional das mais diversas autoridades da área cultural, a exemplo de Drummond, Menotti Del Picchia, Gustavo Barroso, David Carneiro, Fernando de Azevedo e outros que colocam o Museu Sergipano de Arte e Tradição em uma posição de importância na composição do quadro museológico nacional, os quais manifestam votos de apoio ao seu empreendimento em prol do desenvolvimento cultural do estado de Sergipe.

É nesse contexto de grande descaso político com os museus em Sergipe, que Garcez fala para os poderes públicos, chamando atenção para as suas carências, as quais segundo ele impediam que as instituições vivessem “objetivamente a missão e função pedagógica, artística e científica” (GARCEZ, 1958, p.54).

É partindo da luta pela preservação do patrimônio cultural no Estado que José Augusto Garcez dá início a campanha pela construção do Museu Social de Sergipe, contando ainda com o apoio de outros intelectuais, a exemplo de Luis da Câmara Cascudo, que através de correspondências passa a ser um dos principais incentivadores do seu projeto, enviando cartas para autoridades políticas, a exemplo dos Governadores Arnaldo Garcez e Leandro Maynard Maciel em 1958.

A batalha para a implantação do Museu em Sergipe, na ótica de Garcez, é entendida não só pela necessidade da defesa do patrimônio sergipano, mas também pela obrigação do Estado em apoiar tal empreendimento, uma vez que dispunha de recursos necessários para manter um museu que funcionasse de “forma correta” dentro das normas técnicas da Museologia.

Mesmo tendo suas “pretensões frustradas”, como disse Garcez, por não conseguir institucionalizar o Museu Sergipano de Arte e Tradição, transformando-o no Museu Social de Sergipe, José Augusto Garcez conseguiu na prática fazer com que seu museu exercesse a função social em favor do desenvolvimento sociocultural do Estado. Garcez conseguiu impulsionar ainda a necessidade de um “organismo vivo” e a sua importância de servir a toda população para a construção de um conhecimento necessário em prol da valorização do patrimônio sergipano.

Coincidência ou não, um ano após Garcez publicar sua obra de análise crítica “Realidade e destino dos Museus”, em 1958, também uma espécie de diário de sua batalha em prol da criação de um museu para Sergipe, começa-se a ser apresentado o Museu de História e Arte Popular, em 1959.

Mas foi no ano seguinte no dia 05 de maço de 1960, ainda no Governo de Luiz Garcia, que foi inaugurado o Museu Histórico de Sergipe, estando a frente do seu projeto Junot Silveira, então secretário do Governador.
Mesmo José Augusto Garcez não estando diretamente ligado a criação do MHSE, no que tange ao seu projeto, obviamente por retaliação política, não resta dúvidas da sua contribuição para a realização da primeira ação museológica efetiva do Estado de Sergipe.





Foto:http://prefeiturasc.blogspot.com.br/


Anos mais tarde, por ironia de mnemosine, na década de 1970, parte do acervo do Museu Sergipano de Arte e Tradição foi vendida para o Estado, passando a compor não só o rico acervo do Museu Histórico de Sergipe, como também de outros museus sergipanos. Não só isso, mais do que o acervo, Garcez deixou de legado para o MHSE a importância de somar memória e criatividade em prol da mudança social.

REFERÊNCIAS

CASCUDO, Câmara. Em Sergipe del Rey – Movimento Cultural de Sergipe, 1953.

FRAGATA, Thiago; SANTOS, Cláudio de Jesus. Cinquentenário do Museu Histórico de Sergipe: os pioneiros (II). Jornal da Cidade, Aracaju, p. 11 - 11, 04 abr. 2010.

GARCEZ, José Augusto. Realidade e Destino dos Museus. Aracaju. Livraria Regina, 1958.

LOURENÇO, Maria Cecília França. Museus Acolhem Moderno. São Paulo. Editora da Universidade Federal de Sergipe, 1999.

SANTOS, Cláudio de Jesus. Era uma casa, era um museu: José Augusto Garcez e a formação do pensamento museológico sergipano.2011. 72f. Monografia. – Núcleo de Museologia - UFS. Sergipe, 2011.

_____. José Augusto Garcez e a Museologia Social em Sergipe. CIMFORM, Aracaju, p. 2 - 2, 29 nov. 2010.

_____. José Augusto Garcez, precursor da Museologia Sergipana. Jornal da Cidade, Aracaju, p. 08-08, 01 jun. 2009.

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